sexta-feira, 10 de julho de 2009

Diário de Bordo: Parte 1



Junto ao Capitão Façanha e sua Van, nós (da Daysleepers, The Baggios e Elisa) caímos na estrada. Para quem não acompanhou desde o princípio, as três bandas já citadas resolveram pegar estrada e tocar pelo nordeste. E após alguns shows para arrecadar fundos, contatos feitos, shows marcados, jejuns realizados e muitos ofícios enviados (e negados) finalmente conseguimos fechar os zíperes de nossas malas, pôr nossas violas nas costas e ir pro asfalto.

A rota desta primeira etapa foi Recife, João Pessoa e Natal. Respectivamente, dia 02, 03 e 04 de Julho. Ao contrário do que se possa pensar, o cansaço não dominou. Talvez o fato de nos conhecermos a tempos, talvez o espaço físico extremamente limitado, talvez a necessidade, talvez essas mágicas e frescuras intergalácticas. Não importa os “talvez”, importa que nos divertimos pracaralho juntos no carro. Besteiras pairando pelo ar, pacotes de biscoito e garrafas d’água de um lado pro outro. Nos acompanha(ra)m: Igor da Glorybox como roadie-preguiça, homem de palco e alcoólatra; Danilo “Bolota”, fotógrafo e sarcástico; e (Capitão) Façanha como motorista da Van.



É válido fazer uma breve homenagem ao Señor Cojones dessa nossa turnê: Júlio Dodges, Rei do Blues, Michael Jackson ou simplesmente Julico da Baggios. O cara foi realmente o homem da viagem, disparando piadas e chavões com um humor afiadíssimo. Talvez a amálgama da viagem (que tanto procurei origens no parágrafo de cima) tenha vindo desse cara que infelizmente sofreu a perda irreparável da irmã – à qual dedicou uma música em todos os shows - e que teve cunhões pra seguir em frente mesmo assim. Tamos contigo nêga veia! Oh yes, oh no! Tchunáite!

As histórias são muitas, aqui está um resumo superficial delas. Por mais estranho que possa parecer, preferirei aqui falar mais de nós mesmo, de nosso “rolé” e não tanto dos shows. Explico: quantas vezes você faz um show, acha uma merda e recebe cumprimentos de alguém que assistiu ou de algum amigo da turnê dizendo que foi do caralho e que o som tava muito bom? E o contrário? Pois é, por isso preferi assim. Bom também dizer que para todas as cidades podemos nomear uma dor de cabeça maior ou, carinhosamente, um “Aperreio local”. Eles nos ajudarão a nos guiar.

Saímos de Aracaju na quinta feira de manhã chegando a Recife pela tarde. Vamos contentes para o estúdio de ensaios e gravações que seria nosso “hotel” ou dormitório após o show. Lá chegando conversamos com um rapaz que é designer e trabalha atrás do estúdio. Acabamos por saber que não rola esse estúdio.




Aperreio local: ficamos sem “hotel”, e agora? Correria. Fomos almoçar e saímos ligando pros amigos e conhecidos na cidade. Resultado foi que dormiu metade da marmanjada num albergue e outra metade na casa da cunhada de Rafael. No show, gente, mas menos do que o esperado. O pedal de Fabrício tomou um copo de cerveja e continuou vivo, entenda! Era uma quinta feira de chuva no Recife antigo. A chuva, essa safada, nos perseguiu nordeste acima junto do grupo Eddie hehehehe. Só que o Eddie parou a perseguição em João Pessoa. A chuva foi all the way up to Natal.

No dia seguinte, fomos almoçar no shopping e depois pegamos estrada de tarde numa Recife que fervia em tráfego e em calor. Quente virada no estopor! Chegando pelo fim da tarde/começo da noite em João Pessoa, fomos pro Espaço Mundo conhecer logo o lugar e depois hotel pra nos ajeitarmos.

No hotel, com uma maldita escada de degraus irregulares, Arthur ganhou o coração da dona que só chamava ele de coisas como “Arthur meu amor” pra baixo. Passado pouco tempo lá, coisa de uma hora, fomos pro Espaço Mundo de novo.

Aperreio local: a eletricidade do palco era 220 v sem transformador, e agora? A Elisa seria segunda banda da noite. Abertura da banda local Gauche. Trabalho bacana o deles, procurem. Matheus foi o único que estava com estabilizador e transformador. Ele sozinho não estava conseguindo alimentar todas as coisas da Elisa. Resultado? O transformador queimou.

Solução? Sobe a Baggios, com uma formação menor e bem menos tomadas a usar, enquanto o pessoal (acho que foi o Rayan, não lembro, só sei que somos muito³ gratos) do Espaço foi no estúdio de ensaio deles catar um estabilizador que também era transformador. Salvaram a pátria. Após o show da Baggios, tínhamos enfim tomadas o suficiente pra ligar a Elisa e a Daysleepers. Ufa.

Durante os shows começa a chover. Chover mesmo, hardcore nervoso, estilo toró, velocidade 5 do créu. Numa trégua mínima da chuva, guardamos os instrumentos. Volta pro hotel, banho, sono de uma hora de duração pra uns e uma hora de TV pra outros. Café da manhã, toró de novo, guardamos as malas, rua.

Estrada de novo. Como já falei, muita chuva desde cedo em João Pessoa até chegarmos a Natal. No nosso destino, fomos logo procurar o nosso hotel e nos ajeitar. Quando chegamos lá e abrimos a carrocinha dos instrumentos, nos deparamos com o...

Aperreio local: a chuva do dia anterior botou alguns dos nossos instrumentos para beber água, E AGORA? Já imaginou o desespero de um músico ao puxar a mala de seu instrumento/esposa/viver/bebê/amor e ela, suspensa, escorrer água? Não queira nem imaginar. A guitarra de Fabrício, o baixo de Lelo, meu violão e meu set de pedais, a guitarra de Julico, o violão de Arthur. Algumas das vítimas.

Puta que o pariu. Era a frase incessantemente repetida e intercalada com “eita caralho”s e “eitcha cabrunco”s e “puta merda”s. Puta que o pariu. Correria extrema. Os instrumentos foram levados aos quartos mais rápido do que o Samu leva acidentado para o Hospital João Alves. Flanelas, bolas de algodão, papel higiênico, toalhas, ar condicionados. Todos foram os meios usados pra salvar os instrumentos. Felizmente, todos sobreviveram. Garantia que o dinheiro neles foi bem gasto. Arthur até me soltou “Mermão, depois duma já sei que não vendo meu violão nunca! Você vende o seu Pedro?” e respondo “Nem a pau”.

Trabalheira pra chegar ao DoSol: a rua estava tendo uma Caminhada Histórica de Natal, ou coisa parecida. Gente que só a porra. No bar conversamos um bocado com o Anderson Foca. Gente finíssima, trocamos muitas idéias. Ele também é o autor de uma das resenhas do show, a que pusemos anteriormente aqui, confiram. Ele e o Hugo (http://www.oinimigo.com/blog/?p=2181) conseguiram explicar o show melhor do que jamais conseguirei.

Do show, fomos comer. Depois voltamos ao hotel e (com a lição aprendida dos instrumentos terem tomado banho) embrulhamo-os todos em sacos plásticos vedando com fitas. Finalmente dormir e que nem gente decente: cama fofinha, ar condicionado.




A volta foi difícil, quatorze horas de estrada mas no momento, não posso negar: tenho a sensação de dever cumprido. Com isso não quero que se entenda que estou menosprezando e muito menos ignorando os nossos shows pelo interior da Bahia. Muito pelo contrário: eles têm sido repetidamente alvo de conversas nossas dentro da van e também de muitas expectativas. A questão é que nós nos propusemos a uma coisa: sair do estado e defender tudo isso.

E, bem, nós saímos e agora o que nos resta é a parte gostosa de tocar e fazer o melhor show possível a cada noite. Com algumas lições aprendidas nessa primeira etapa, nossa mala vai um pouco mais cheia para a etapa Bahia. Barola! Ops. Simbora!

http://moysebass.livejournal.com/18488.html

http://coletivonoize.blogspot.com/2009/07/resenha-invasao-sergipana.html

http://www.dosol.com.br/2009/07/05/como-foi-invasao-sergipana-no-dosol/comment-page-1/

http://www.oinimigo.com/blog/?p=2181

5 comentários:

  1. Belo texto - deveria vir assinado, mas pelo que entendi foi feito pelo Pedro, parabéns. E parabéns também, evidentemente, pela atitude, muito necessária, de todos vocês. Que sirva como exemplo.

    Adelvan

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  2. podes crê ficou muito bom o texto.
    mas faltou ressaltar que quem pegou Lelo foi
    Arthur eheheh

    e essa turnê na Bahia espero que estejam de boas!

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  3. Me mata de orgulho esse menino!
    Bora pupilo de Cardosão!

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  4. Gostei.
    A idéia de escrever a experiência como um diário de viagem, relativizando o lado artístico (ou seja, os shows e etc.) e ressaltando o lado humano (viagem, "aperreios" e desafios enfrentados).
    Belo texto, merecia assinatura

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  5. Muuuito legal... em momentos de insônia a gente acaba descobrindo esses blogs bacanas, que passei batido durante dias...
    Parabéns ao pessoal q teve a cara e a coragem de sair por aih... adorei o nome tb ^^
    Beijoos ;D

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